8 de julho de 2010

Violência contra as mulheres

          Diariamente, ao abrirmos as páginas policiais de diferentes jornais, ou ao entrarmos em algum site na Internet, nos deparamos com centenas de notícias envolvendo violência contra as mulheres. Recentemente dois casos, um amplamente divulgado, e outro abafado por determinado seguimento dos meios de comunicação, têm despertado maior atenção da população por envolverem pessoas famosas e que gozam de boa situação financeira. Ambos têm uma característica marcante em comum: a certeza da impunidade.

          O mais divulgado de todos é o sequestro seguido de assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do ex-goleiro - espera-se que agora só jogue no time do presídio - Bruno, do Flamengo. A moça, que tinha um filho com Bruno, fora cuelmente assassinada segundo relatos de um dos comparsas do jogador. O menor contou, em depoimento, os requintes de crueldade usados pelo algoz de Eliza, um ex-policial vulgarmente conhecido por Neném. Até que o assassinato começasse a ser esclarecido pela Polícia Civil, muitas pessoas debatiam nos blogs suas suposições a respeito fato. O ponto mais marcante foi perceber que a violência contra a mulher, nesse tipo de crime, começa com a  discriminação dentro da própria sociedade com relação à vítima.

          Em muitos comentários havia expressões depreciativas descrevendo a moça, tais como "Maria Chuteira". O que não faltou foi gente dizendo algo do tipo: "viu só, isso é o que acontece com quem quer se dar bem". Independente das intenções de Eliza, ao se relacionar com Bruno e ter um filho com o mesmo, havia ocorrido um crime. Tratava-se, antes de tudo, de um ser humano. Nada justifica um ato como este. Antes de ser indiciado, percebia-se nas entrevistas de Bruno, que o mesmo estava certo que sairia impune.

          Bruno teve uma infância pobre, não teve instrução, cresceu em um meio social no qual a violência faz parte do cotidiano da comunidade. Porém, nada disso é atenuante para o crime cometido. Apenas serve de parâmetro de comparação para outro caso, que vem sendo divulgado na Internet através de blogs e noticiado em algumas emissoras de TV, ocorrido em Florianópolis.  Segundo notícias veiculadas, há cerca de quarenta dias, uma menina de 13 anos fora covardemente estuprada por dois adolescentes de classe média. Um dos acusados é filho de um delegado de polícia em Florianópolis, o outro filho do empresário do grupo RBS, Sérgio Sirotsky.

          Em relato à polícia, a adolescente contou que foi ao apartamento de Sirotsky. Afirma ter bebido vodka e não se lembra de mais nada. Suspeita ter sido dopada pelos rapazes. O estupro aconteceu no quarto do acusado, com a moça inconsciente. O fato só veio à tona porque, certo da impunidade, um dos rapazes confessa o crime em um site de relacionamento na Internet.

          Por se tratar do filho de um empresário do grupo RBS nada foi divulgado pela emissora de televisão. Está certo que, por envolver adolescentes, deve-se ter certos cuidados ao veicular uma notícia dessas. Mas nem uma nota no jornal relatando o acontecido é um absurdo. Se envolvesse filhos de ilustres desconhecidos, o crime estaria estampado na primeira página do Diário Gaúcho ou do Catarinense. Pergunto: com que moral a RBS irá veicular notícias envolvendo delitos semelhantes? Como é que o Lasier Martins irá pregar moralismo diariamente no Jornal do Almoço? Terão os comunicadores da RBS o direito de cobrar uma maior ação policial contra o crime organizado e criticar a morosidade do Poder Judiciário, se simplesmente abafaram este caso?
         
          Estamos diante de uma velha história: para os inimigos, os rigores da lei; para os amigos, a lei. Melhor seria nesse caso simplesmente dizer: para os filhos dos outros, ampla divulgação; para o filho do chefe, o silêncio da imprensa. Felizmente temos a Internet e podemos receber informações que a imprensa oculta.

          Certos de que suas famílias irão fazer o impossível para "varrer a sujeira para debaixo do tapete", alguns jovens de classe média cometem as maiores barbaridades e ficam impunes. Assistimos casos de espancamento até a morte, índio sendo incendiado e agora essa pobre menina sendo covardemente estuprada. A sociedade não está mais disposta a tolerar a impunidade. Não devemos nos calar diante desse tipo de conduta. Devemos utilizar todos os meios possíveis para expressarmos nossa indignição e exgimos punição para quem comete esse tipo de crime ciente de que nada irá acontecer. A lei deve valer para todos, seja para o cidadão comum, seja para jogador de futebol, seja para filho de empresário.
    

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